O professor deve entender as dificuldades dos estudantes com limitações de raciocínio e desenvolver formas criativas para auxiliá-los
Cinthia
Rodrigues (novaescola@atleitor.com.br)
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CONCENTRAÇÃO Enquanto a turma lê fábulas, Moisés faz desenhos sobre o tema para exercitar o foco. Foto: Tatianal Cardeal |
De todas as
experiências que surgem no caminho de quem trabalha com a inclusão, receber um
aluno com deficiência intelectual parece a mais complexa. Para o surdo, os
primeiros passos são dados com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Os cegos
têm o braile como ferramenta básica e, para os estudantes com limitações
físicas, adaptações no ambiente e nos materiais costumam resolver os entraves
do dia-a-dia.
Mas por onde
começar quando a deficiência é intelectual? Melhor do que se prender a
relatórios médicos, os educadores das salas de recurso e das regulares precisam
entender que tais diagnósticos são uma pista para descobrir o que interessa:
quais obstáculos o aluno enfrentará para aprender - e eles, para ensinar.
No geral, especialistas na área sabem que
existem características comuns a todo esse público.São três as principais dificuldades enfrentadas
por eles: falta de concentração, entraves na comunicação e na interação e menor
capacidade para entender a lógica de funcionamento das línguas, por não
compreender a representação escrita ou necessitar de um sistema de aprendizado
diferente. "Há crianças que reproduzem qualquer palavra escrita no quadro,
mas não conseguem escrever sozinhas por não associar que aquelas letras
representem o que ela diz", comenta Anna Augusta Sampaio de Oliveira,
professora do Departamento de Educação Especial da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).
A importância do foco nas
explicações em sala de aula
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SIGNIFICADO Na sala de recursos, elaboração de livro sobre a vida dos alunos deu sentido à escrita. Foto: Marcelo Almeida |
Alunos com dificuldade de concentração precisam
de espaço organizado, rotina, atividades lógicas e regras. Como a sala de aula
tem muitos elementos - colegas, professor, quadro-negro, livros e materiais -,
focar o raciocínio fica ainda mais difícil. Por isso, é ideal que as aulas
tenham um início prático e instrumentalizado. "Não adianta insistir em
falar a mesma coisa várias vezes. Não se trata de reforço. Ele
precisa desenvolver a habilidade de prestar atenção com estratégias
diferenciadas para, depois, entender o conteúdo", diz Maria Tereza Eglér
Mantoan, doutora e docente em Psicologia Educacional da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp).
O ponto de partida deve ser algo que mantenha o aluno atento, como jogos de tabuleiro, quebra-cabeça, jogo da memória e imitações de sons ou movimentos do professor ou dos colegas - em Geografia, por exemplo, ele pode exercitar a mente traçando no ar com o dedo o contorno de uma planície, planalto, morro e montanha. Também é importante adequar a proposta à idade e, principalmente, aos assuntos trabalhados em classe. Nesse caso, o estudo das formas geométricas poderia vir acompanhado de uma atividade para encontrar figuras semelhantes que representem o quadrado, o retângulo e o círculo.
A meta é que, sempre que possível e mesmo com um trabalho diferente, o aluno
esteja participando do grupo. A tarefa deve começar tão fácil quanto seja
necessário para que ele perceba que consegue executá-la, mas sempre com algum
desafio. Depois, pode-se aumentar as regras, o número de participantes e a
complexidade. "A própria sequência de exercícios parecidos e agradáveis já
vai ajudá-lo a aumentar de forma considerável a capacidade de se concentrar",
comenta Maria Tereza, da Unicamp.
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