O nome correto é retardo mental, deficiência mental ou intelectual?
Muitos nomes foram utilizados para a pessoa com deficiência intelectual: débil, imbecil, retardado mental, deficiente mental, dentre outros. Atualmente, utilizamos o termo Deficiência Intelectual (DI) por uma conquista do próprio grupo de pessoas com deficiência e por estudos que mostraram a carga de interpretações negativas construídas ao longo do tempo para os termos anteriores.O termo deficiência intelectual também é mais apropriado por melhor diferenciar o que é deficiência mental separando do que seria “doença mental” (área da psiquiatria), ambos foram e ainda são confundidos.
Destacamos estas problemáticas de uso dos termos porque afetam as práticas pedagógicas e a maneira de lidar com esse alunado, pois sua aprendizagem é calcada na “debilidade” e nos “atrasos”, inclusive, na idéia de “idade mental” (com a qual não se trabalha nos dias de hoje). A pessoa com deficiência intelectual tem os interesses dos pares de sua faixa etária.
Acreditamos que a deficiência intelectual não está dada apenas por fatores biológicos, mas é uma categoria historicamente construída, englobando tanto os referidos fatores biológicos como os preconceitos do impacto dos usos e dos abusos de termos e de ideias que são produzidos socialmente. Daí, a importância da escola na vida desses sujeitos para não somente propiciar o desenvolvimento de habilidades como também desfazer esses equívocos que impedem a inserção social.
Podemos entender o sujeito que possui uma deficiência intelectual como alguém que possui uma organização qualitativamente diferente e que é capaz de realizar aprendizagens, porém, a construção de conceitos se dá de forma diferenciada, necessitando para tal, de estratégias e procedimentos pedagógicos apropriados.
O aluno com deficiência intelectual necessita de interferências planejadas que auxiliem na sua capacidade de autonomia e nos processos de relação com o mundo e este aspecto já apresenta uma diferença nítida em relação a pessoa com dificuldade de aprendizagem.
Qual a diferença entre deficiência intelectual e dificuldade de aprendizagem?
Vejamos a um exemplo simples:Uma criança com deficiência intelectual, antes de ingressar na escola, comumente é percebida pela família como “diferente” na compreensão de ordens, na possibilidade de se sair bem de uma situação imprevista como a de compras na quitanda, eis alguns dos obstáculos:
- de verificar o caminho já realizado com a família para ir sozinho até a quitanda;
- de verificar a variedade de marcas e de elementos icônicos pela observação de rótulos para substituir um produto que não tenha achado;
- de verificar por meio de perguntas as opções de compra ou de troco se dirigindo ao vendedor elaborando estas questões e lidando com as respostas.
Uma criança com dificuldade de aprendizagem grosso modo pode apresentar uma dificuldade extrema no processo de aquisição de leitura e de escrita e/ou nos cálculos matemáticos, mas a família relata que no mesmo episódio acima relatado, de ida a quitanda, o menino ou a menina é “safo”. Mesmo que ele não saiba ler ou calcular o troco ou até mesmo se perde o dinheiro que levou para ir ao comércio, esta criança sabe se virar com os contratempos lidando com as pistas ao seu redor.
Ao ingressar na escola é que acontece o relato da dificuldade do menino ou da menina com a aprendizagem, no caso da dificuldade de aprendizagem, antes disso, não havia a queixa da/na família. Na escola é que começam esses “problemas”, isso comumente se caracteriza mais para a dificuldade de aprendizagem e/ou para metodologias de ensino. Não confundindo as situações de comportamento de desatenção ou de agitação, com as preocupações com o aprender. Mesmo esses dados comportamentais influenciando o “rendimento escolar”, a eles são dados um relevo e um peso demasiadamente grande nos primeiros aspectos relatados em uma avaliação, o que não é aconselhável.
O que fazer ao me deparar com esses quadros de deficiência intelectual e de dificuldade de aprendizagem? Ambos são da Educação Especial?
Destacamos que a principal atitude da escola ao se deparar com um ou com outro caso, carece ser o de “flexibilizar” o currículo por meio de estratégias diferenciadas que auxiliem esta criança a aprender.No caso de necessidade de maiores ajudas, o professor, em parceria com o coordenador pedagógico e/ou a direção, poderá descrever as dificuldades e as possibilidades deste aluno, em relato de aspectos pedagógicos (e não clínicos), podendo solicitar a família a levar aos apoios de profissionais da saúde de ordem terapêutica (fonoaudiólogo, psicólogo, psicopedagogo).
O aluno com dificuldade de aprendizagem não se constitui público-alvo da Educação Especial e não se enquadra no rol de pessoas com deficiência.
No caso da deficiência intelectual, o relatório escrito da descrição das dificuldades e das possibilidades deste aluno, ou seja, de aspectos pedagógicos (e não clínicos) precisa ser encaminhado aos cuidados dos agentes de educação especial.
A solicitação de um relatório dos profissionais da saúde que verificam o estudo clínico do caso auxiliará os agentes de educação especial a fechar o enquadre de modo responsável dentro da Deficiência Intelectual (DI). Portanto, ao se deparar com uma possível morosidade do fechamento da avaliação do enquadre de DI, compreendamos que o rótulo errado causa transtornos a trajetória desse sujeito socialmente. Os profissionais da educação não são médicos e não concluem diagnósticos, por isso, precisam avaliar o caso em parceria com a saúde.
O aluno DI receberá o encaminhamento para a sala de recursos na própria escola e/ou a mais próxima a sua residência. O aluno DI é acompanhado pela Equipe da Unidade Escolar o qual está matriculado em parceria do Atendimento Educacional Especializado (AEE) do aluno.
O aluno com deficiência intelectual aprende a ler? E se ele não lê, como faz os testes e provas?
Sem dúvida o aluno com deficiência intelectual aprende a ler e a escrever. A criança com deficiência intelectual pode precisar de um tempo maior (em anos de escolaridade) para a alfabetização.
O desenvolvimento da oralidade e de outras habilidades como a interpretação e resolução de situações-problema se dá na escola, nos primeiros anos, e é essencial para a vida da criança e do jovem. Mesmo antes da consolidação da leitura e da escrita, a oportunidade de vivenciar as variadas atividades escolares, colaboram com o desenvolvimento do aluno.
Portanto, é direito do aluno público-alvo da Educação Especial ter testes e provas lidos por um ledor para que seja possível a interpretação e a resolução de questões que podem ser resolvidas com o uso de múltipla-escolha ou de respostas ditadas pelo aluno e registradas por um escriba. Isso não significa que a escola perderá de vista o foco na alfabetização do aluno.
Há um número pequeno de alunos com deficiência intelectual que não consolida a alfabetização. São capazes de reconhecer a logotipia de um jornal ou a marca de um produto, mas não tem condições de ler um texto. Esta constatação não é feita por antecipação ou por previsão de resultados.
A conclusão sobre a não consolidação da alfabetização só pode ocorrer após um longo percurso de metodologias de ensino sempre oferecidas, ano após ano ao aluno, no Ensino Fundamental, e de estratégias e de recursos de apoio pensados pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE) e por TODA equipe da escola durante a escolarização.
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